Castelo Branco não esconde a ambição de ser “um verdadeiro centro de desenvolvimento, inovação e empreendedorismo”. A estratégia passa por criar “um ambiente capaz de gerar novas oportunidades de negócio”, deixando para trás a ideia de um interior deprimido. Quem o diz é Luís Correia, presidente da autarquia albicastrense. Os “três eixos fundamentais” para o desenvolvimento da cidade passam pela educação e cultura, qualidade de vida e inovação e emprego e estão a alcançar sucesso no desenvolvimento de novas ideias e na fixação de pequenas empresas.

Na última edição do Green Business Week (GBW), que teve lugar em Março, o município de Castelo Branco fez questão de dar visibilidade à dinâmica tecnológica e empresarial da região, oferecendo um palco privilegiado a algumas das start-ups mais inovadoras do concelho. A presença de pequenas empresas num evento desta dimensão que faz a ponte entre tecnologia inovadora e sustentabilidade “é uma grande mais-valia para as start-ups que não têm apoios financeiros”. Hélio Silva está bem ciente da vantagem que é ter o apoio da autarquia, “em termos de contactos e de divulgação”. Esteve em Lisboa em representação da Evox Technologies, a apresentar a solução 360Waste, que integra sensores e está orientada para a eficiência na gestão de resíduos.

Hoje, há várias “empresas que têm vindo a crescer muito próximas de Castelo Branco, ou mesmo na cidade”, conta Vasco Soares, da InspiringSci, que veio até Lisboa apresentar o iSensA, um sistema que monitoriza e analisa dados em tempo real. “Cada vez temos mais empresas nas áreas das TI [tecnologias de informação] que têm lá vindo a radicar-se, se não em Castelo Branco, em concelhos próximos”, conta à Smart Cities, dando como exemplo os casos da Altran, no Fundão, e da OutSystems, em Proença-a-Nova.

Em Castelo Branco, o CEi (Centro de Empresas Inovadoras) é um dos grandes motores desta dinâmica. Oferece incubação às boas ideias que nascem na cidade e àquelas que para lá decidem mudar-se, sendo que, das quatro empresas presentes no GBW, não há uma que não esteja lá, ou, pelo menos, que não tenha por lá passado e recebido apoio em termos de espaço, equipamento ou divulgação. Para o presidente da câmara municipal, é precisamente este contexto, “com a criação de diferentes estruturas físicas e de apoio, que permite aos empresários empreender em Castelo Branco”. “Estruturas como o Centro de Apoio Tecnológico ao Agro-Alimentar, a INOVCLUSTER ou o Centro de Empresas Inovadoras, em cooperação entre Ensino Superior, Ensino Profissional e as associações empresariais e comerciais, garantem um ambiente capaz de gerar novas oportunidades de negócio”.

Neste percurso, as desvantagens que outrora haviam sido claras, tornaram-se, hoje, obsoletas. Esta é a visão de Teresa Fonseca, presente no GBW com a aplicação móvel FireRisk, que permite a comunicação de informação relacionada com incêndios florestais e integra várias fontes de dados abertos numa única plataforma. A empreendedora sabe que, apesar de parecerem existir “algumas dificuldades de se trabalhar no interior”, no que diz respeito, por exemplo, a deslocações, essas dificuldades “são hoje totalmente ultrapassadas com tecnologia”. E confessa que, muitas vezes, as reuniões acontecem por Skype. “Não é por aí” que as coisas correm menos bem. “Não sentimos que temos menos posição estratégica por estarmos em Castelo Branco”.

A ambição das empresas que ainda se encontram incubadas passa pela saída – natural – do CEi, assim dite o crescimento do negócio, mas não passa, para nenhuma delas, pela saída de Castelo Branco. Fernando Pires da Silva, da Allbesmart, empresa que se dedica ao desenvolvimento de soluções inovadoras, revela que “o intuito é sairmos do centro de empresas inovadoras para um espaço nosso em Castelo Branco”. No evento realizado no Centro de Congressos de Lisboa, apresentou soluções ligadas ao tracking automóvel, à rega inteligente e aos sensores ambientais.

A estratégia seguida pela autarquia parece estar a surtir efeito e a impor uma dinâmica interessante ao concelho. “A cidade foi e tem sido objecto de uma enorme transfiguração que a coloca num patamar de excelência ao nível da regeneração urbana, qualidade do espaço público, espaços verdes, sustentabilidade, lazer e fruição cultural”, conta Luís Guerreiro. O autarca acredita que a receita para o sucesso da cidade está em associar a estas dimensões “pilares fundamentais”, como a educação e cultura e a inovação e emprego.

*O artigo foi publicado, originalmente, na edição #15 da revista Smart Cities. Aqui, com as devidas adaptações.